domingo, 16 de janeiro de 2011

O espetáculo

     Calma! Os espetáculos raramente terminam sem aplausos, nem mesmo os incidentes que encerram uma vida têm a capacidade de acabar sem uma solene despedida, em lágrimas, em aplausos ou até mesmo em ensinamentos.
     Imagine-se em uma cena, onde é apresentado o que você sabe fazer de melhor, onde são apresentadas coisas que foram custosas para aprender nesta rotina da vida, e ao final dar-se a impressão de um espetáculo vazio, de uma platéia silenciosa... E de repente quando está quase encerrando, dando o seu melhor, o seu máximo, vem algo e lhe derruba e recebes uma queda dolorosa e então a platéia dar sinal de vida, a platéia fica alerta ao espetáculo. E você não sabe o que fazer, pensa em sair do palco, visto que já apresentou o que tinha de melhor e a platéia só deu sinal quando o seu pior veio a acontecer, o que você ia fazer ali, já deu tudo o que você tinha de melhor, já está farto, cansado, necessita urgente de um repouso, e então se arrasta para a beira do palco como se estivesse se retirando, alguns da platéia levantam-se e saem, outros começam a vaiar, chama-o de covarde, de fraco e egocêntrico. Sua cabeça gira a mil, e fica divido em dois turbilhões de pensamentos. Se alguns já se levantaram e foram embora, você precisa pelo menos dos que estão vaiando, eles são uteis, essenciais para quando as cortinas fecharem, pelos que vaiaram você fica. E então recomeça do zero, começa a se levantar e enfrentar a queda que levou, a reconstruir e planejar novamente, a platéia fica atenta em suspense, alguns não acreditam que você vai conseguir superar, outros aguardam por um final trágico... E você como espera o final?
      A adrenalina está no ar, a aventura de superar, de enfrentar os desafios, trás emoção e mais personagens ao palco, os coadjuvantes contracenam com você, alguns deles até saíram da platéia e entraram em cena também, agora o espetáculo está bom, até você está gostando, e não quer ver o final, prefere a emoção, a adrenalina, conhecer os novos personagens... não quer que o espetáculo encerre... Quando inesperadamente você escorrega de um precipício e sua vida se encerra, ali ela teve um fim, ali ela teve o recomeço em outro mundo. E você infelizmente foi se lamentando pelo fim inesperado do seu espetáculo.
Sobre um monte senta-se e reflete toda a trajetória apresentada no teatro.
     Percebeu que nos momentos em que você contracenava sozinho mostrando todas as suas habilidades, talentos e aprendizagem, não se ouviam ruído algum vindo da platéia, para você era sinal de respeito pelos seus dons, mas na realidade não havia ninguém maravilhado por tanta coisa que você sabia fazer, todos estavam entediados com tanta coisa boa, tanta coisa certinha... Tanto que a platéia só deu sinal quando você foi derrubado do seu orgulho e otimismo, oras, mas por quê? Bem, foi neste momento que você percebeu que existem os “outros” na sua vida, tudo que você aprendeu parece até que devia gratidão somente a si mesmo e contracenava ali autônomo de si. E porque alguns levantaram e foram embora e outros vaiaram? Seria mais viável se todos fossem embora juntos e acabava todo o espetáculo. Os que vaiaram foram seus mestres e conselheiros, os que foram embora são os tratantes da vida, que passam somente para rir do seu desespero, os que subiram no palco são seus amigos. Quando você estava decidindo entre descer ou segurar os poucos que permaneceram na platéia, você estava decidindo em desistir ou continuar a vida. Parabéns você decidiu continuar, e continuou com mais vontade, mais humildade e caráter, sua vida ficou mais alucinante, e disso você não queria abrir mão tão cedo. Acontece que sua vida foi cortada inesperadamente, e você foi se lamentando. Esqueceste que tudo que vivemos tem chances únicas, esqueceu que os amigos que contigo contracenavam precisavam de palavras amigas, de abraços, de carinho. Esquecestes de dar mais tempo às alegrias do que às dores, esquecestes da fé pela intuição do certo ou errado. E sua vida foi partida em lamentações. Deixando corações tristes, desesperados, doloridos... Infelizmente falhou na previsão do encerramento do seu show, não permitiste que cada cena terminasse para um novo capítulo. E a vida evaporou.
     As oportunidades são expostas, e as chances são únicas. Chance de sorrir, de cantar, de alegrar, de superar, de aprender, de se declarar... E a vida é um destino que pode ser interrompido a qualquer momento. E a melhor forma de afagar uma interrupção menos dolorosa é viver tudo como se fosse uma única entrega, uma única chance... Mesmo que o abraço de hoje seja o ultimo dê, nunca se sabe... Mesmo que as palavras de hoje sejam as ultimas, dê as melhores, pois podem ser as eternas, jamais termine um diálogo em discussão ou mau humor, pois esse arrependimento pode arder mais tarde. Seja um protagonista pacífico, compreensivo e humilde e fique atento de que o sucesso é apenas uma cobiça momentânea, não lute pelo sucesso, mas pelo bem estar de si mesmo e do seu próximo. 
     Desistir do palco da vida? Lembre-se que existe sempre uma luz no fim do túnel, acende-a. A platéia existe para ver o quanto você é capaz de superar, então dê o seu show, sabendo que toda cena precisa ser encerrada para um novo capítulo, finalize com gala, com energia e repletamente afável pelas pessoas que cruzam o seu espetáculo.

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